Abril*

Vinhas descendo ao longo das estradas,

Mais leve do que a dança

Como seguindo o sonho que balança

           Através das ramagens inspiradas.

                             E o jardim tremeu

                               Pálido de esperança.

*in  Obra Poética I (pág. 91) de Sophia de Mello Breyner Andresen, Ed. Caminho, 4ª edição.

Ó Poesia sonhei que fosses tudo

E eis-me na orla vã abandonada

Uma por uma as ondas sem defeito

Quebram o seu colo azul de espuma

E é como se um poema fosse nada.

*ANDRESEN, S. M. B. (2006): Antologia MAR,  Ed. Caminho, 6ª edição, p. 66.

Entre a terra e os astros, flor intensa.

Nascida do silêncio, a lua cheia

Dá vertigens ao mar e azula a areia,

E a terra segue-a em êxtases suspensa.

*ANDRESEN, S. M. B. (1998): OBRA POÉTICA I, Ed. Caminho, 4ª edição, p. 123.

Quem como eu em silêncio tece

Bailados, jardins e harmonias?

Quem como eu se perde e se dispersa

Nas coisas e nos dias?

*ANDRESEN, S. M. B. (1998): OBRA POÉTICA I, Ed. Caminho, 4ª edição, p. 122

Em silêncio nas coisas embaladas

Vão dançando ao sabor dos seus segredos,

Nos seus vestidos brancos e bordados

Raios de lua poisam como dedos,

E em seu redor baloiçam arvoredos

Escuros entre os céus atormentados.

*ANDRESEN, S. M. B. (1998): OBRA POÉTICA I, Ed. Caminho, 4ª edição, p. 124.