Não posso deixar que o sonho incompleto ou não realizado venha lançar-me num estado de desalento e frustração que me liquide a esperança residual. Isso seria deixar morrer a réstia de esperança que me sustém para não soçobrar. Só com a esperança posso atar e desatar os laços da vida que o sonho constrói. É com ela que resisto ao desânimo que o adiamento, o reinício ou a perda do sonho provoca. E mesmo que ténue, é a esperança que impede a cristalização e empurra para a recriação ou a reconstrução do sonho. É a esperança que se opõe ao abandono do sonho e acalenta a exigência da sua reformulação "forçada" para que, reiniciado e tornado concretizável, conceda a oportunidade de acreditar, novamente, na necessidade e na capacidade de sonhar.
Na perspetiva da materialização do meu sonho, a imagem mental que eu vou construindo dele não é o decalque fiel dos momentos por que ele passa durante o percurso e desenvolvimento das etapas da sua concretização. Os obstáculos, os desvios, as estratégias de recuo e avanço e, quantas vezes, o apelo à desistência fazem parte do processamento e finalização desse sonho e geram marcas de angústia, impotência, desilusão que me provocam um sequente estado de frustração que pode destruir-me toda a capacidade de lutar pela sua realização ou condicionar-me a possibilidade de alcançar, com sucesso, a meta da sua concretização.
Agarro o sonho que me é intrínseco. Reconheço que não posso impedir que o sonho fuja ao meu controlo porque não depende da minha disponibilidade, da minha persistência e da minha determinação. No sonho, acontecem situações imprevisíveis que, irremediavelmente, interferem e condicionam o encaixe sequencial de todas as etapas da sua construção e pelas quais terá de passar para fazer cumprir a sua realização. Eu não tenho poder sobre essas vicissitudes inesperadas que possam surgir. Eliminá-las, dominá-las, contorná-las ou, tão-somente, desprezá-las são ações que, muitas vezes, estão para além da minha vontade.
O Homem não constrói nem segue o sonho como quem encaixa as peças de um puzzle. A montagem do puzzle abandonada ou incompleta por uma qualquer circunstância impede, apenas, o Homem de contemplar a imagem finalizada e, ocasionalmente, defrauda-lhe a dedicação, o trabalho e o tempo despendidos. É uma decepção que, em qualquer momento, o Homem pode anular. E, sem condicionalismos, pode retomar e finalizar a montagem do puzzle porque depende, simplesmente, do seu querer e da sua disponibilidade.
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Incompleto, abandonado, irrealizado, o sonho não deixa marcas temporárias como um puzzle inacabado. O sonho não concretizado deixa uma marca inesquecível, parada, à espera que todos os seus passos possam ser recriados ou reformulados para que as peças se reencaixem, se ajustem na construção que se recomeça, se, para tal, houver oportunidade, persistência e força anímica que ajudem o Homem a superar as contrariedades e a acreditar que vale a pena correr atrás do sonho.
Seja qual for o sonho que o Homem persegue, é o sonho que o faz avançar na busca da concretização do mesmo. Materializar o sonho é a motivação para viver. Seja o sonho de que índole for, o Homem corre atrás do sonho e do encanto que o instante certo da sua realização encerra. O sonho marca, de várias formas e de modo indelével, o Homem. O sonho deixa gravada aquela emoção que acompanha o momento em que ele se materializa, instante irrepetível, e a sua gravação para memória futura permite recordá-lo tantas vezes... talvez para recarregar o ânimo que conduza à realização de um novo sonho que se persegue.