A empreitada chegou ao fim. Não foi nada fácil. Ao fim de um mês, e sob um verão que se mantém tímido, sobram o cansaço e o alívio de que tudo que havia para fazer está feito. A decisão estava em marcha e destralhar a moradia de dois pisos e o sótão seria uma obra penosa, mas de coragem. Tanta sebenta, tanta fotocópia, cadernos A4 e A5 com exercícios realizados, livros de estudo… mas era necessário aquela ação de despejo. Quanta tralha acumulada nas estantes do sótão, caixas com peluches da A., até brinquedos do João e do Tiago, chávenas de café de uma suposta coleção que o M.D. iniciou, distribuídas por cestas tipo piquenine, cheias de pó e que nunca passaram de um ajuntamento numeroso e bem poeirento. Enfileiradas nas prateleiras, inúmeras pastas de arquivo com a planificação de aulas, testes avaliação, registo de avaliação de alunos, várias caixas grandes, tipo Ikea, onde ainda foram encontrados livros do 12º do M., disketes sem conta e já passadas ao estado obsoleto, cd`s com trabalhos académicos guardados, material eletrónico por todo o lado, incluindo as gavetas dos roupeiros. Um horror! O apego afetivo às tralhas que se acumulam, ano a ano, contribui para que tomem conta de tanto espaço em casa e, depois, vem aquela pouca vontade, sempre adiada, de se fazer uma limpeza radical, um trabalho tão necessário quanto odioso. A certa altura, quando toda a ação de limpeza se torna inadiável e se vai concretizando, os montes de papel, essa tralha “esquecida” por diferentes espaços da casa, parecem emergir de todos os cantos e sente-se aquele pó que deixa marcas escuras de sujidade nas mãos. Irrita e arrepia de repulsa. Só apetece largar tudo e, mais uma vez, adiar o trabalho de destralhar a casa. Mas como o que tem de ser tem muita força, desta vez teve de ser. E foi. Trabalho cumprido!
Negócios ruinosos. Contratos firmados ao arrepio dos interesses do Estado e dos cidadãos. E ”nisto” não há inocentes. Riscos à mercê do poder financeiro. E do económico, também. Custos e perdas. Até a perda da vergonha! A crise. E a Troika, a contenção, a austeridade. A insensibilidade social, também. Sacrifícios e mais sacrifícios. Para quê? O sorvedouro incalculável! As contas de subtrair nos bolsos dos cidadãos. O verão na reta final! A preparação do OE para 2014. A 8ª e a 9ª avaliações da Troika. O corte nas pensões (aqui). Como estas atrapalham as contas do orçamento e as “conversas” com Troika! Afinal, há gente que tem a desfaçatez de envelhecer vivendo da pensão de aposentação ou da sua reforma que lhe foi garantida após dezenas de anos de trabalho e de descontos para CGA ou SS! Um conselho. Só um, mas radical! Como nas hostes há imaginação, delete- se a "peste grisalha”(aqui). E com a garantia de "descontaminação" e de poupança (aqui) que passará a um número mais expressivo!
Relâmpagos e trovoada encheram a noite. E a chuva veio ajudar. O ar está “lavado”. Já não se sente o forte cheiro a madeira queimada que se espalhara por todo o lado. Ainda bem.
O vento sopra forte e atiça o fogo traiçoeiro que avança veloz. Sempre dominador. Sente-se o cheiro intenso do fumo que acinza o azul celeste, onde o sol escaldante irradia sem complacência pelo que se passa, a seus pés, nos montes e vales. O negro torna-se a cor predominante da paisagem. Aos olhos, ressaltam os troncos das árvores que, de pé, morreram subjugadas pela força avassaladora das chamas. Aqui e ali, o verde refrescante de verão tomou a cor da destruição.
Setembro vem marcado pelo sol abrasador que sufoca. Um vento quente sopra forte. E o fogo traiçoeiro avança. Domina. Não dá tréguas. Queima. Desnuda a paisagem. Montes e vales vestem a cor desgraça. Setembro entristece nos dias ensolarados.
Setembro chega luminoso como se pretendesse envergonhar o seu antecessor, um agosto mal resolvido. Ainda que generosamente quente, setembro, no calendário dos seus dias, traz a marca oficial da partida do verão. Por isso, deixa à solta a nostalgia dos dias sem compromissos e tranquilos de mais um verão que se completa. Cumpre-se o regresso e o recomeço. O regresso à escola e ao trabalho. À vidinha de todos os dias. E o recomeço, doloroso e mal engrenado, acaba por ganhar a aceitação do reencontro com o frenesim do dia-a-dia. Sem tréguas. No cumprimento estrito do quotidiano.