Traçado na dureza sombria do granito, o Porto desce ao Douro, estende-se da Ribeira à Foz. Desfruta o Passeio Alegre e refugia-se no Castelo do Queijo, espreita o mar, por momentos, antes de alcançar o Parque da Cidade onde descansa e ganha fôlego. Sobe a avenida da Boavista, faz um desvio até à Casa de Serralves para respirar arte e beleza, dá um salto à Casa da Música onde bebe as batidas ritmadas dos sons musicais que lhe relaxam o corpo e sossegam a alma. Sobe e corre do Marquês às Antas, passa pelo Dragão, vive as emoções, e alarga-se até Campanhã para descer ao Freixo e desembocar, de novo, no Douro. De relance, olha Gaia, mas não se detém. Percorre a margem, olhando as pontes que partlham e o olhar alcança a muralha Fernandina, lá no alto. No funicular dos Guindais sobe à Batalha e, da escadaria da igreja de Santo Ildefonso, enxerga a rua de Santa Catarina. Decide-se pela rua 31 de Janeiro e, não perdendo de vista a imponência do seu ex-libris lá no cimo, a Torre dos Clérigos, passa a igreja dos Congregados, toma a avenida dos Aliados para, da Praça Humberto Delgado, apreciar o edifício da sua Câmara Municipal. Sobe à Trindade e inverte o seu caminho para regressar à beira Douro. Passa por S. Bento, olha os seus azulejos. Desce a rua Mouzinho da Silveira, olha o Mercado Ferreira Borges e o Palácio da Bolsa. Visita a Casa do Infante e está de regresso à Ribeira. Consciente de todo o percurso que o seu traço de granito toma, atreve-se a perscrutar o âmago da sua alma granítica que se reflete nas águas do seu Douro e no brilho de fachadas de azulejos coloridos que recolhem e espelham a grandeza da sua gente tão genuína e franca. Orgulha-se do seu sotaque. Único e inesquecível. A pronúncia do Norte, sem complexos. Umas vezes, apimentada, em jeito brejeiro. Outras vezes, frontal, certeira, sem rodeios, que desaforo não se leva para casa. A sua gente sem máscara! Livre e calorosa para acolher, incondicionalmente e sem preconceitos, quem a respeita e a aceita tal qual como ela se mostra. A sua gente das contas à moda do Porto e de enorme coração. E este Porto, feito granito transmudado em vida e emoção, confunde-se com a maneira de ser e estar da sua gente moldada na dureza de antes quebrar que torcer. Este, sim, é o Porto que eu amo.