Os chumbos do Tribunal Constitucional marcam a dramatização e a hipocrisia do Governo. O Primeiro-ministro afirma que não se pode estar em permanente sobressalto constituicional. Mas quem aprova as medidas que, à partida, não vão passar no crivo do Tribunal Constitucional (TC)? É a maioria parlamentar que sustém o governo. E pasme-se! O drama! Que preocupação com os Funcionários Públicos (FP) porque, face à decisão do TC, em Junho, certamente, não vão poder receber, a tempo, os salários e subsídios de férias. Quanta pena o governo mostra pelos FP! Que hipocrisia! Quando os esbulhava, nunca se preocupou com a diminuição dos rendimentos devido aos cortes e, também, aos retroativos, no caso de acontecerem, e que eram processados de imediato. Quer lá saber se os FP podem contar com os salários e os subsídios de férias, atempadamente, neste mês de junho! Desejava, talvez, que os FP, pelo previsível atraso no processamento de salários e subsídios, ficassem revoltados com o TC. E, como o Governo está tão sensibilizado, a sua ampla base de apoio parlamentar pede a aclaração do acórdão aos juízes do TC e, assim, pode contribuir para o atraso que pode acontecer! O impasse! Mas nós, os portugueses, não podemos viver neste "sobressalto permanente". Qual é o plano B que, afinal, o Governo tem de apresentar à Troika em substituição das normas chumbadas e que outros sacrifícios nos serão pedidos? Acredito que esteja preocupado com o cumprimento da saída limpa que prometeu, com o encerramento da 12ª avaliação que fecha o programa de resgate, com a queda da economia no 1º trimestre deste ano, e há que ter em conta, também, a reação dos mercados financeiros e a análise e notação das agências de rating perante estes chumbos. Estamos metidos numa saia justa, mas não podemos imputar as culpas ao TC, que cumpre a sua função. Contudo, confesso que até me passa pela cabeça que o Governo, embora afirme que não vira a cara aos obstáculos e às adversidades, possa dramatizar que o país está numa situação ingovernável e, por isso, até possa aspirar por eleições antecipadas. Oh, oh! Enquanto o Partido Socialista anda entretido com a história das eleições primárias, até vinham a calhar...
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