Cá temos o verão de S. Martinho. Esta luz solar e o céu azul já faziam falta. Será por uns dias, é certo. Um breve tempo para aproveitar as tréguas que a chuva oferece nestes dias ensolarados de outono.
Cá temos o verão de S. Martinho. Esta luz solar e o céu azul já faziam falta. Será por uns dias, é certo. Um breve tempo para aproveitar as tréguas que a chuva oferece nestes dias ensolarados de outono.
Novembro, sob um manto chumbo e escrupulosamente marcado pelo calendário equinocial, envolto na atmosfera húmida e chuvosa que lhe definha os dias, lá se vai consumindo. E há um sol enfraquecido que se perde no cinza-celeste que lhe encobre o brilho envergonhado. É um sol macilento que, vergado à impetuosidade da chuva, mal se mostra. Mas é novembro! E é outono! Até a ilusão, ainda que tímida, aguenta o desalento, sacode a torpeza, e espera que se cumpra a tradição. Que o verão de S. Martinho aconteça! Que os tons azuláceos se esbatam pelo céu, tendo o sol como único protagonista. Só por uns dias. Recalcular o ânimo é preciso.
Novembro chega esmorecido, exala o aroma intenso da castanha assada e do vinho novo, carrega os tons outonais que acentuam o matiz seco e amarelecido dos dias que se sucedem, para que se cumpram o torpor e o silêncio a que a natureza que se recolhe, antes que o inverno chegue e a desnude violentamente…
País que carrega o preço da crise que lhe dilacera o presente. A austeridade que lhe tolhe ânimo. Os sacrifícios que lhe coartam a esperança. Os sonhos legítimos adiados. Sem prazo. País que carrega a expetativa traída. O desalento que o faz olhar o futuro sem perspetiva de realização. A tristeza que lhe esfrangalha o otimismo. Isto é Portugal.
No universo que nos acolhe, criado por um ente superior, um deus adorado, ou resultado do Big Bang, fenómeno cosmológico que transcende o conhecimento e o poder do Homem, o sol, brilhante e quente, oferece mais luz ao dia de outono. Um dia marcado pela visita da chanceler alemã, Angela Merkel, ao nosso país.
Outono, tempo de condescendência. Brilho de sol amarelecido que ousa romper o céu pesado que se faz azul. Momento de luz e reconforto.
Outono carrega os detalhes da mudança. Espalha-os, ao pormenor. Sobressaem o ocre, o castanho velho, o vermelho seco, o assobio do vento, a batida ritmada da chuva, o voo louco das folhas, ressequidas e livres, e os cheiros, tão presentes, das primeiras chuvas, da castanha assada, do vinho novo, da natureza que despe os últimos laivos do verão. Tempo do entorpecimento e do recolhimento. Do silêncio, também. E muito! Apenas quebrado pelo vento que varre a chuva forte que ensopa tudo. Chuva impiedosa que trespassa o corpo e encharca a alma. Outono, prenúncio do inverno, branco e gelado. E da nudez. Tempo para a longa preparação da renovação cíclica que tem de acontecer.