Passam os dias e a chuva dá tréguas. Maio, que cumpre a sua reta final, oferece um dia quente. Desço a rua até ao mar, caminho pela praia e aproveito o sol que tão escondido tem andado. Ficam as imagens.
A tranquilidade do mar em dia de sol.
As flores que dão cor às dunas.
A ribeira corre para o mar.
A preguiça, ao sol quente de junho, toma conta do corpo, apodera-se das horas e alia-se à cadeia de inutilidades que vai ocupando a mente. A vontade, que não se solta das amarras da preguiça, entrega-se vencida ao relaxamento inconsequente, enquanto o pensamento, livre de rotinas e obrigações e esquecido de tudo o que é importante, deambula e não se deixa traduzir pelas palavras que, agarradas à ociosidade instalada, não se comprometem, antes se tornam indolentes ou improfícuas. O melhor, pois, é buscar o silêncio, senti-lo, adicioná-lo à preguiça para a rentabilizar ao máximo, porque o sol quente de junho permite que seja usufruída sem remorsos nem lamentos.
Eis a primavera! Acolho-a efusivamente para sentir o brilho do sol que afastará os resquícios mais teimosos que o inverno deixou para trás. Quero respirar o ar primaveril que espalha os tons vivazes sobre natureza, tão ciosa da renovação, e encanto-me, sob a luz quente do sol, com o colorido que vai tingindo as flores que desabrocham por entre a vegetação verdejante que, livremente, invade e se apodera da terra que a alimenta. Quero a primavera que me desperta os sentidos do entorpecimento inverniço e me convida para o cerimonial da ressurreição que se estende à natureza e lhe provoca o viço garrido ou suave que brota e pontilha o verde matizado do arvoredo de variados tamanhos e formas que cresce, com exuberância, por todo o lado. Quero os chilreios da passarada que quebram o silêncio e os zunidos ensurdecedores dos insetos que acordam aos primeiros sinais primaveris e, incessantemente, esvoaçam pelo céu azul e límpido. Quero desfrutar os dias luminosos, amenos e agradáveis por que ansiava, olhar o tom azul do céu que toca o mar ciano e, lá ao longe, avistar os barcos que passam. Tranquilamente, quero saborear a doçura das amêndoas coloridas que acompanham a tradição que se faz presente e empresta toda a solenidade religiosa à festa da Ressurreição como um hino de alegria que acompanha a renovação que veste de vida e de cor toda a natureza.
O sol irrompe e a sua luz enche o dia. E muda tudo. Calor e brilho aquecem o corpo e iluminam a alma. Que bom saborear um dia assim luminoso! Sabor a laivos de verão! Não se sabe por onde ele (o verão) andava nos momentos em que deveria ter cumprido o seu calendário estacional. Tanto se ansiou por ele! Toca a aproveitar. O tempo não é pródigo em ofertas generosas e, mesmo que seja só por hoje, é gostoso usufruir este sol quente em céu límpido e azul. Amanhã, ver-se-á se voltará a invadir mais um dia de outono. Por hoje, quebra-se a rotina e regista-se o facto.
Não fui caminhar até à praia. Repouso por recomendação médica. Mas não faltou a imagem do mar, neste dia de outono, ao fim da manhã, apesar do mau tempo que se feito sentir.