Breve momento de pausa para quebrar a rotina...

Autoria de textos e imagens do blog é de momento do café


02
Nov 12

Era uma vez um lindo jardim quadrilongo, plantado à beira-mar, onde, sob o indefinível zunzum de incontáveis insetos que ali esvoaçavam, viviam uns gafanhotos gigantes que, unidos por um incontrolável apetite, saltitavam sem limites e buscavam todas as oportunidades que os conduzissem ao mais promissor e farto devorismo. Aqueles gafanhotos, com desmedida e voraz ambição, arrastavam muitos outros que, movidos pela ganância e, como predadores que eram, se lhes juntavam para se converterem numa praga insaciável que engordava descomunalmente. No jardim, todos os insetos os reconheciam como gafanhotos gigantes, confiáveis, insetos de bem, acima de qualquer suspeita. O comum dos insetos que tranquilamente zoava por ali, tão confiante e transbordando ingenuidade, jamais pensaria que tal praga de gafanhotos gigantes pudesse causar tamanha devastação no jardim quadrilongo. Gafanhotos gigantes, máscaras de seriedade, escondiam a avidez pela colheita fácil e, em ataques devastadores e menos claros, provocavam um enorme flagelo predatório no jardim, infligindo-lhe um ruinoso dano. Todos os insetos, no jardim, tinham como certo que o grilo com a função de supervisão da atividade dos gafanhotos gigantes, inseto bem remunerado e cercado de muitos privilégios, estaria atento a toda aquela voracíssima onda polífaga. Mas tal ação de zelo não acontecia. O grilo zelador, inquirido, estridulava ingenuidade e excessiva credulidade no mais destacado gafanhoto gigante daquela praga destruidora. O resultado redundava em estragos de grande monta que os grilinhos falantes, eleitos democraticamente e então governantes do jardim, já em desespero de causa, decorria um domingo de outono, tiveram de o mandar ajardinar, em modo "nacionalização". Outros outonos passavam. Comissões de inquérito depois, no jardim quadrilongo, chegava mais um outono e, sem factos concretos nem provas novas, tudo continuava por esclarecer sobre a colheita danosa que uma Brutal Praga Nefasta de gafanhotos gigantes tinha infligido ao jardim quadrilongo, plantado à beira-mar, a sudoeste da Europa.

publicado por momento do café às 12:08

19
Jun 10

O canto do alegre grilo-cantante ouvia-se e logo um bloco de insectos, zoando e esvoaçando à sua esquerda, apressava-se a apoiá-lo naquela decisiva serenata de confessável disponibilidade a candidato à presidência do jardim quadrilongo. O alegre grilo-cantante não recusava aquele bloco de apoio. Tal aceitação provocava uma ruidosa e generalizada estridulação na família dos grilos. O imponente grilo-cantante lembrava a sua pertença e a importância histórica que tivera na família grilídea, mas continuava a cantar fora do tempo e do ritmo que ela impunha. Bem reivindicava o seu estatuto grilídeo, mas o seu independente e extemporâneo canto irritava a família. Por isso, o apoio tardava. O grilo-cantante desejava senti-lo. Mas o apoio da família grilídea acomodava-se ao indeciso e prolongado compasso de espera. Contudo, face ao canto reivindicativo do alegre grilo-cantante, uns grilos atreviam-se a entoar um canto convergente e melodioso de apoio, enquanto outros, numa dissonante entoação, apelavam à livre decisão sem qualquer imposição familiar. O canto e a estridulação confundiam-se pelo jardim. A grilharia ecoava sem controlo. Tinha de ser disciplinada. Os grilídeos não podiam adiar, por mais tempo, a reunião familiar. Chegava o momento para a família grilídea se reunir e tomar a decisão definitiva... Sob a batuta do líder-grilo, a larga estridulação submetia-se ao canto harmonioso da maioria. Alguns discordavam do apoio decidido e silenciavam. Muitos outros grilos largavam o registo de dissonância extrema e juntavam-se ao canto uníssono de apoio ao alegre grilo-cantante. A família dos grilos oficializava, assim, a sua decisão e entregava ao alegre grilo-cantante, o testemunho mais simbólico daquele apoio, a rosa do jardim. O imponente e alegre grilo-cantante, finalmente, podia agarrá-la e cantar a sua satisfação. Ainda assim, mal ficavam serenadas as hostes na família grilídea, pelo jardim, elevava-se um solitário e veemente canto de discordância. Um dos mais carismáticos grilos discordava...

publicado por momento do café às 11:12

21
Mai 10

Primavera chegara. A oeste da Ibéria, o jardim quadrilongo continuava adormecido pelo canto dos grilos cantantes que, em uníssono, acompanhavam o canto enganador do grilo-líder. Naquele jardim, todos os seres esvoaçantes que por lá labutavam, sentiam que as rosas esmoreciam sob o sol quente da Primavera. Mas os grilídeos cantantes não aceitavam, nem confessavam a razão. Esses grilos cantantes e o seu líder continuavam a governar um jardim fantasiado de irrealidades que só eles enxergavam. Líderes de diversas sensibilidades, no jardim, já tinham lançado um zunido de alarme que o líder dos grilos teimava em ignorar. Aquele zoar exigia a verdade e incomodava os grilos cantantes que logo mudavam de registo e estridulavam para negarem a crua realidade que se instalava no jardim quadrilongo. Um despesismo voraz convertia-se numa praga insaciável que se abatia sobre o jardim que acordava de uma invernia tão castigadora. E, no jardim, o descalabro abria um buraco descomunal. O efeito era inacreditável! Os habitantes do jardim, confiantes, jamais pensaram que tal grilharia incompetente pudesse causar tamanha devastação. "O" vespa-rainha, num relance às rosas que feneciam, não queria perder a oportunidade de protagonismo e, num zumbido estridente, fazia-se ouvir por todos os recantos do jardim. Era o zumbido que obrigava o líder dos grilídeos, no seu canto embalador, a anunciar que uma crise assolava o jardim. E, para remediar a desgraça que se abatia sobre o jardim que governava, o grilo-líder acabava de encontrar o seu par, "o" vespa-rainha, que lhe dava a mão para o tango polífago de ataque  à crise. Os grilos cantantes já não podiam negar o grande buraco escavado no jardim e, em desespero de causa, exigiam sacrifícios àqueles seres esvoaçantes que por ali granjeavam duramente sem que tivessem, afinal, contribuído ou ajudado a cavar o tal buraco no jardim quadrilongo, a oeste da Ibéria.

publicado por momento do café às 09:47

14
Fev 10

Um sonido ensurdecedor entoado por incalculável número de insectos de todos os quadrantes daquele jardim quadrilongo à beira-mar, ali a oeste da Ibéria, ouve-se e vem no mesmo sentido. É o toque de alerta quando a liberdade de zumbir está em perigo. Logo a grilharia, em todas as frentes, ataca aquele ruído. Nenhum dos grilos cantantes desafina na atitude de protecção ao grilo-mor que se vê confrontado com relevações que, alegadamente, parecem apontar para o seu desejo de condicionar o zunzum disparado por tantos insectos  que se movimentam naquele jardim , soltando um zunido que o tanto o incomodam. Todos os grilos estridulam quando o canto do patrão grilídeo é exposto  ao desconforto da dúvida e planeiam acções para que todo aquele zumbido impertinente não o embarace. É o momento “do toca a reunir” toda a família grilídea, é obrigatório que todos os grilos cantem harmoniosamente. Não há lugar para os desafinados, e os grilos fazem o canto do compromisso, entoando o mesmo estribilho e sem alterações: não comento mexericos

publicado por momento do café às 16:31

19
Jan 10

Do sul, um grilo cantante, imponente, cantou. Logo um bloco de insectos zoou alegremente, em apoio à sua intenção. Mas os grilídeos não gostaram e estridularam perante a circunstância do canto extemporâneo daquele grilo cantante que compromete as escolhas. Uns estridulam ruidosamente querendo desapropriá-lo daqueles insectos zoantes que se congregaram em seu redor. Outros pretendem reformular aquele canto alegre para que percorra transversalmente todo o universo dos grilos cantantes e se torne afinado, unissonante e vitorioso, no momento certo.

publicado por momento do café às 15:12

27
Jul 09

Algo intrigava a população daquele jardim quadrilongo, onde a rosa se impunha pela sua cor e o perfume dominante. Ali, a oeste da Ibéria, as formiguinhas intelectuais fervilhavam com ferroadas de raiva, enquanto os grilos cantantes estridulavam de revolta. Um facto toldava o ambiente democrático do jardim.
Nem os grilinhos, nem as formiguinhas mostravam vontade de assumir um esclarecimento sobre o acontecimento que veio a lume, provocou tanto ruído e colocou tantas dúvidas aos habitantes daquele jardim quadrilongo. Formiguinhas, vespas, gafanhotos, louva-deus, escorpiões e outros insectos e aracnídeos questionavam de que lado estava a verdade ou quem é que mentia.
Tanto o dirigente do grupo dos grilídeos, como o dirigente do formigueiro gladiavam-se e no centro da luta, uma joaninha que afirmou que fora, insistentemente, seduzida pela cor, pelo aroma do jardim e pelo canto dos grilinhos. Procura-se, pois, a tal joaninha para que venha pôr fim a todo este imbróglio que pôs o jardim em polvorosa . Os seres vivos que por ali pululam, têm o direito de conhecer quem não diz a verdade...

publicado por momento do café às 00:55

25
Jul 09

No grupo dos grilídeos, para a escolha dos candidatos ao canto no parlamento dos insectos daquele jardim quadrilongo, plantado a oeste da Ibéria e banhado pelo mar azul, todos os grilos cantantes se põem a jeito e procuram cantar em uníssono. Vozes desafinadas e desafiantes da linha imposta pelos grilos dirigentes não são bem-vindas. Deseja-se quem alinhe pela disciplina do grupo grilídeo e saiba cantar em uma nota só. Quem não aceita as regras e não quer cantar em uníssono, não pode estridular de forma dissonante porque é, definitivamnte, afastado das opções e corre o risco de passar de inconveniente a proscrito do grupo grilídeo. Quem quiser cantar naquele jardim onde as rosas são predominantes, não pode argumentar  com o  «Desafinado»* e a última oportunidade é entrar no «Samba de uma nota só».**

 

**Tom Jobim

 

 

publicado por momento do café às 17:08

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Boa Nova: Farol e mar

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