Era uma vez um lindo jardim quadrilongo, plantado à beira-mar, onde, sob o indefinível zunzum de incontáveis insetos que ali esvoaçavam, viviam uns gafanhotos gigantes que, unidos por um incontrolável apetite, saltitavam sem limites e buscavam todas as oportunidades que os conduzissem ao mais promissor e farto devorismo. Aqueles gafanhotos, com desmedida e voraz ambição, arrastavam muitos outros que, movidos pela ganância e, como predadores que eram, se lhes juntavam para se converterem numa praga insaciável que engordava descomunalmente. No jardim, todos os insetos os reconheciam como gafanhotos gigantes, confiáveis, insetos de bem, acima de qualquer suspeita. O comum dos insetos que tranquilamente zoava por ali, tão confiante e transbordando ingenuidade, jamais pensaria que tal praga de gafanhotos gigantes pudesse causar tamanha devastação no jardim quadrilongo. Gafanhotos gigantes, máscaras de seriedade, escondiam a avidez pela colheita fácil e, em ataques devastadores e menos claros, provocavam um enorme flagelo predatório no jardim, infligindo-lhe um ruinoso dano. Todos os insetos, no jardim, tinham como certo que o grilo com a função de supervisão da atividade dos gafanhotos gigantes, inseto bem remunerado e cercado de muitos privilégios, estaria atento a toda aquela voracíssima onda polífaga. Mas tal ação de zelo não acontecia. O grilo zelador, inquirido, estridulava ingenuidade e excessiva credulidade no mais destacado gafanhoto gigante daquela praga destruidora. O resultado redundava em estragos de grande monta que os grilinhos falantes, eleitos democraticamente e então governantes do jardim, já em desespero de causa, decorria um domingo de outono, tiveram de o mandar ajardinar, em modo "nacionalização". Outros outonos passavam. Comissões de inquérito depois, no jardim quadrilongo, chegava mais um outono e, sem factos concretos nem provas novas, tudo continuava por esclarecer sobre a colheita danosa que uma Brutal Praga Nefasta de gafanhotos gigantes tinha infligido ao jardim quadrilongo, plantado à beira-mar, a sudoeste da Europa.