O mundo continua a girar e Portugal, quase letárgico, vai girando alheado. A azáfama eleitoral percorre o país de norte a sul. Os candidatos às presidenciais, assessorados por galopins, desdobram-se em arruadas, feiras, comícios e jantares. É o jogo da luta pelo voto do povo. Jogam as palavras que definem as qualidades que os diferenciam e apresentam-se ao eleitorado. Um candidato proclama-se o arauto da confiança e da competência. Outro apodera-se dos valores da democracia e revê-se como a guardião da república e do estado social. Ainda outro afirma ser a única alternativa à necessidade de rutura e de mudança. Um outro candidato, um não profissional da política, apresenta-se como o cruzado da confiança para recomeçar Portugal. Ainda outro, qual D. Quixote, escolhe os destinatários e desfere ataques verbais a quem chama de tiranetes e outros quejandos da política. Por fim, outro candidato reduz o seu propósito de luta contra a resignação ao pedido de explicações que exige a um dos seus concorrentes, o seu alvo preferencial. Debates, comentários, análises, opiniões alimentam jornalistas experts em política nacional, comentadores, analistas, formadores de opinião e uma casta de politólogos que pululam por aí. Esmiúçam, analisam, abalizam palavras e ações dos candidatos e dos seus apoiantes mais diretos e influentes. O resultado é a amálgama de opiniões e conjeturas. Especulam-se estratégias, apontam-se soluções políticas, inconclusivas e confusas, que o povo, simplesmente, despreza. Por isso, no ar, paira a sombra de um outro candidato, sem rosto – a abstenção – com a força de desvirtuar o resultado do ato eleitoral.