Sobrevivi!
Em cada dezembro que chega, revivem-se a cor, a luz, o brilho festivo do Natal e da passagem de ano que se avizinham. Dezembro é o presente que se abre e sente-se uma lufada de paz que revigora a alma. É merecida esta paz. Aquece o coração, apazigua a mente nestes dias sem perspetivas de futuro… É obrigatória uma pausa. E finge-se que a maldita crise fica “contida e esquecida” (por uns dias).
O povo aguenta, ai aguenta, aguenta mais austeridade, impostos e taxas, cortes nos salários, nos subsídios de desemprego e de doença! Até quando? Um enorme aumento do IRS e uma sobretaxa adicional de 3,5% (fruto da complacência) vão provocar, de novo, um corte nos rendimentos. E acontecerá a diluição de subsídios de férias e de Natal ao longo dos doze meses do ano. Ilusão! Uma mão cheia de nada! É a continuação do jogo do rapa e (re)põe, do (re)tira e deixa (o povo iludido). E um Orçamento de Estado, quase nado-morto, que respira pela aprovação (desconcertada e cheia de incertezas) da maioria que suporta o Governo. Uma maioria que reconhece que um tão mau orçamento dificilmente poderá sobreviver. Depois, o Governo fará o remedeio com outras medidas de ajustamento para “curar” a debilidade com que este Orçamento do Estado vê a luz do dia. Resta, ao povo, mais um logro. Ai povo que vais carregar o peso do mau orçamento de Estado para 2013!
Resumindo… depois de saturada negociação entre a maioria que suporta o governo (não, não foi a oposição) e o ministro das Finanças, elimina-se o número 4. No seu lugar, escreve-se 3. À direita do 3, coloca-se a vírgula e escreve-se um 5. E reduz-se a anunciada sobretaxa de 4% para 3,5% em sede de IRS. Uma vitória. E puro exercício de ilusão!. E eis que vai sair a aprovação do OE2013 com os votos dos deputados da maioria. E a declaração de voto dos mesmos. Estranho!
País que carrega o preço da crise que lhe dilacera o presente. A austeridade que lhe tolhe ânimo. Os sacrifícios que lhe coartam a esperança. Os sonhos legítimos adiados. Sem prazo. País que carrega a expetativa traída. O desalento que o faz olhar o futuro sem perspetiva de realização. A tristeza que lhe esfrangalha o otimismo. Isto é Portugal.
No universo que nos acolhe, criado por um ente superior, um deus adorado, ou resultado do Big Bang, fenómeno cosmológico que transcende o conhecimento e o poder do Homem, o sol, brilhante e quente, oferece mais luz ao dia de outono. Um dia marcado pela visita da chanceler alemã, Angela Merkel, ao nosso país.
A Alemanha, que há muitos anos acolhe tantos emigrantes portugueses, conhece a boa índole e a qualidade de trabalho das gentes de Portugal. Se assim não fosse, não nos quereria lá. Face a esta realidade, não quero nenhum vídeo promocional sobre os portugueses. Eu quero, sim, um vídeo em que os políticos, os ex-políticos metidos a comentadores e a analistas situacionistas, ou a porta-vozes informais dos sucessivos governos viessem mostrar a qualidade dos governantes e da política portuguesa. Imagens de gente impreparada, incompetente, que não sabe cuidar da coisa pública e nada percebe da causa pública. Gente que se agarra à política para dela fazer o seu "métier". Perante imagens da verdade sobre a qualidade enganadora dos políticos de Portugal, o povo alemão e a Sra Merkel talvez viessem a reconhecer a razão do nosso empobrecimento e da desesperança que nos abala. E talvez, ainda, compreendessem a vergonha por que estamos a passar e esta indignação que não nos silencia.