Sr. Primeiro- Ministro,
As medidas de austeridade, extremamente injustas e muito duras, que nos quer impor sem que nos seja dada uma justificação e sem que nos sejam apresentados os motivos e as ações reais que conduziram o país à situação de definhamento, colocaram-me num estado de alma que balanceia entre a resignação e a indignação. Vivo este dilema: resignação ou indignação?
Se me resigno, calo-me e, como diz o velho ditado, "quem cala, consente". E, a cada medida de austeridade que venha a ser implementada, levo mais um murro no estômago. Contorço-me. Imobilizo-me. E deixo que façam de mim um inútil saco de pancada. Resigno-me e não reajo. Acomodo-me cobardemente ao conformismo do "que tem de ser". Perco toda ação. Entro num estado letárgico. Temo que num momento mais lúcido me arrependa da resignação a que me submeto e não consiga reunir as últimas forças para me questionar e inverter a decisão. E exaurida, desisto. Assim, não posso ajudar o país. A letargia liquida-me.
Se me indigno, não me calo. Refilo. E muito. Reclamo a insustentabilidade de tais medidas de austeridade que nos quer impor. E sempre aos mesmos. A cada murro no estômago, contorço-me com dores, reajo, levanto a cabeça, faço frente e, descontente, oponho-me à estocada seguinte. Revolto-me. Grito a injustiça. Choro a raiva. Barafusto. Parto a louça toda. Uff!!... Até posso ficar cansada de tanta ação, mas não desisto. Não paro esta indignação. Não desmobilizo perante este sentimento de injustiça.
Neste dilema, resignação versus indignação, tomo a minha decisão. A resignação é voz de quem não tem força para contrariar este estado a que Portugal chegou. É silenciosa. Não se faz ouvir. E chuto a resignação. Vai de retro! Agarro-me à indignação. E junto a minha voz a todos os que se sentem tão indignados quanto eu. A voz dos indignados faz-se ouvir? Não sei. Sei que incomoda. E vale a pena contestar, lutar, indignar-me? Acho que sim. Ao menos, não restará pena de não ter lutado. A indignação nem sempre traz a vitória. Estou ciente disso. Mas antes vencida que convencida. E porquê? Porque não me convenço que medidas tão duras possam ser impostas. Exijo a razão plausível e detalhada das causas desta situação a que o país e os portugueses chegaram. Quero só a verdade das contas que sustentam a imposição de medidas tão austeras e o conhecimento do modo como, em nome dos portugueses, foram geridos os negócios e os interesses de Portugal. Não reivindico o espírito justiceiro, nem a justiça popular. Em democracia, a política julga-se nas urnas. A sentença está no poder do voto livre. Mas não só! Se houve a prática de algum ilícito, é ao poder judicial que compete fazer justiça. Só quero compreender os sacrifícios que me exigem e só a compreensão pode atenuar (nunca anular) esta indignação que me estimula à luta por uma mudança real, justa e verdadeiramente democrática de que carece o meu Portugal de quase nove séculos e que precisa de ter futuro, principalmente, para tantos jovens (gente de bem, não confunda com "gente bem") que merecem melhor sorte.
Sr. Primeiro-ministro, neste momento tão difícil, coube-lhe o encargo de governar Portugal. Peço-lhe que, a todos os portugueses, explique melhor o que correu mal para chegarmos a este estado de "coisas". Embora indignada, como cidadã quero compreender e tenho o direito de saber como, onde, para quê, porquê e quem deixou Portugal neste estado de definhamento social, económico e financeiro.
Com indignação,
mariam
Em 29 de setembro de 1963, nascia Mafalda do cartoonista argentino Quino. Mafalda, a criança de 6 anos, lúcida, crítica e politizada questionava tudo. Temas como o capital e o modelo burguês da sociedade de então, o imperialismo e o comunismo, a guerra fria, o racismo e as injustiças sociais estavam presentes e embaraçavam todas as outras personagens com quem interagia. Fã dos Beatles, Mafalda detestava qualquer tipo de sopa e afirmava que "a sopa está para a criança como o comunismo está para o capitalismo". (imagem internet)
O outono chega quente. Benevolente, oferece-nos o sol como se quisesse roubar os dias iluminados e quentes que o verão, em obediência ao calendário estacional, deixou para trás. O outono gosta de nos presentear com aquelas sobras que o verão, na pressa de partir, deposita nas suas mãos porque, inexoravelmente, tem de cumprir a partida que o cronómio lhe impõe. Mas não tarda muito e o outono consciencializa-se de que é dono do seu tempo e, cumprindo-o, desenvencilha-se da réstia de sol e do calor para nos enlaçar na ventania fria, desagradável e violenta que, sobre o chão, estende o tapete de folhas soltas e secas que só a natureza, na sua paleta de cores, sabe matizar na conjugação perfeita das tonalidades outonais. E, silenciosamente, o outono manifesta a sua essência e sua vontade. Já sem disfarces, toma conta do seu destino e lança a atmosfera outonal que nos envolve sob uma chuva fria, insistente e inesperada que nos encharca e nos definha os dias, num prenúncio do Inverno...
Verão é o tempo em que o dia se prolonga para além do pôr-do-sol que contemplamos tranquilamente à beira-mar, entre as brincadeiras e gargalhadas do João e do Tiago... Vão ficando as paisagens, as cores, os aromas, os sabores, os sons, as risadas desses dias luminosos. Deixemos que o nosso imaginário nos reporte para o verão que ansiosamente aspiramos... porque tão depressa chega como tão depressa parte.