Tudo acontecia até 24 de Abril de 1974. A palavra democracia não fazia parte do léxico dos políticos daquela altura. Tinha-se medo de falar, mas falava-se. E escrevia-se. A censura truncava o que não era politicamente conveniente para a época, fazia o seu trabalho em prol de um poder político dominador, castrador da pluralidade político-ideológica. Todavia, havia muita gente com consciência do que se passava neste país, tinha-se esse conhecimento e assumia-se a consequência do delito de opinião e da atitude crítica ou de oposição perante uma censura institucionalizada a que se ficava exposto, reconhecida como imposta e que, sobretudo, coartava a livre expressão de pensamento. Alcançada a democracia com o 25 de Abril, pensar-se-ia que, passados trinta e cinco anos, ela estaria definitivamente instalada em Portugal e que nunca mais a censura reinaria por aqui. Mas não. Revivem-se momentos em que parece que a liberdade de expressão sofre um constrangimento de cariz político como se a quisessem tolher sob o jugo de um novo estilo censura, mais velada, que vai manifestando, pontualmente, tiques de controladora até ao momento em que, ostensivamente, se revela como uma ameaça à democracia. Naquele tempo, no Estado Novo, de lápis azul na mão, os censores não passavam de uns mangas de alpaca ao serviço da ditadura. Hoje, é uma censura em novo estilo. Bem diferente. A censura cozinha-se, hoje, nos meandros do poder, move influências, abusa da manigância com um só objectivo: o controlo da comunicação social, a que incomoda, aquela que é o vector atento e essencial à credibilização da democracia e à preservação da liberdade de expressão.
(texto republicado/ actualizado)