Umas vespas esvoaçam e, incansavelmente, continuam a zumbir aos quatro ventos. Ouvem-se num zumbido estridente. Não passa de uma desenfreada, ruidosa e inconsequente dissonância em redor da vespa-rainha a completar o seu voo final como líder do vespeiro. Embora se manifestem num incomodativo e constante zumbido, o receio refreia-lhes a ambição. Nenhum desses vespídeos parece ter o arrojo de lançar o zumbido ensurdecedor que sustenha o sinal de uma arriscada candidatura à liderança daquele vespeiro. Essas vespas, putativas candidatas à liderança, no momento de concretizarem essa decisão, zumbem, zumbem, perdem a coragem, falta-lhes o fôlego para a luta. Fenecem. A coragem não está na proporção directa à intensidade do zumbido que soltam. Afinal, aquele zumbido incessante não passa de uma característica do ADN daquele vespeiro. São vespas que apenas lutam por um lugar bem perto da vespa-rainha para, no momento que elegem como o ajustado, usufruírem de todas as prerrogativas que o apoio ao líder, de ocasião, pode trazer-lhes. Existem, também, as outras vespas. Aquelas que não se acomodam. E entre elas, destaca-se uma vespa que alardeia forte zumbido de firmeza, dá início ao seu voo de mudança. Sabe que uma assumida ambição pela liderança não é bem acolhida. Abala estruturas e aviva as vulnerabilidades do vespeiro. Anuncia a luta pela liderança do vespeiro. Só essa vespa arrisca, zumbe, tem uma atitude de firme de mudança no seio daquele vespeiro que despreza a sua pretensão e ela, verdadeiramente ambiciosa, vai percorrendo, sem pressa, o seu caminho de crescimento político, organiza o seu próprio vespeiro dentro do vespeiro de dimensão mais ampla. Sabe como recrutar e mobilizar os seus apoios. Escolhe o momento adequado para anunciar o seu voo de partida para a mudança. E mudar pressupõe um voo para a liderança.