A vespa, espécie social, zumbindo incessante, emerge gradualmente, e instala-se em qualquer partido do espectro político. Após a nidificação e um crescimento seguro, cria a sua metamorfose, uma mudança radical de formatação e de substância conjuntural para que, em associação com outras vespas, intente a organização do seu próprio vespeiro no seio daquele amplo enxame de vespídeos. Parasita e, do vespeiro que o acolhe, retira os meios que sustentam a sua sobrevivência e ambição. Na realidade, tem o papel social de endoparasita partidário. Instala-se indefinidamente e, em algumas fases, sabe como tirar proveito da sua proximidade com as vespas-rainhas que se sucedem na liderança e, calculadamente, espera que o seu ciclo de maturação política esteja concluído. Atingida a sua eclosão política, no vespeiro que utilizou para seu proveito pessoal, o seu zumbido, em crescendo, vai ampliando a sua própria verdade, impondo a sua opinião firme e assegurando que, rendidos à sua vontade determinada, outros vespídeos se congreguem, em seu torno. A ambição não lhe impõe limites. Sente-se a vespa que contesta a acção da vespa-rainha, a que critica as decisões do líder do momento. Dedica-se a prover todos os recursos e os meios que alimentam o seu objectivo político, a liderança, o voo mais alto que um vespídeo almeja. Sabe esperar o momento e as circunstâncias que lhe possam ser favoráveis, conhece os meios a utilizar na concretização dos seus intentos. Assume-se vanguardista, aceita-se como a referência do protesto, do descontentamento, regista um zumbido insistente para consciencializar o vespeiro, comunica com clareza a sua pretensão. Mostra-se combativo na acção, o seu ânimo mobiliza outras vespas num enxame de apoio à luta a que se propõe em nome do poder que deseja exercer. Reage como qualquer vespa ambiciosa, as suas palavras soam como picadas de ferrão acutilante. Adverte e encara, sem cobardia, todas as decisões da vespa-rainha instalada e que obstaculiza o seu propósito de liderança. Atormenta-a, amesquinha-a, pica-a impunemente, desgasta-a, imobiliza-a para a queda e morte políticas. Assume o poder que conquista. Nasce o novo líder. Impõe-se como a nova vespa-rainha e, do vespeiro que construiu, emerge gradualmente uma outra vespa... que zumbe.