O Outono chega cálido, oferecendo dias ensolarados como se quisesse apoderar-se do ardor e da alegria do Verão que não pôde dilatar a sua permanência entre nós. O Outono gosta de nos encantar com as sobras que o Verão generosamente deposita em suas mãos para cumprir a data da partida que calendário lhe impõe. Entra colorido e orgulhoso, mostrando todo o esplendor das suas tonalidades ao sol ameno que se atreve a mergulhar a luz e o brilho na atmosfera outonal que silenciosamente nos vai envolvendo. Não tarda muito que o Outono, consciente de que é dono do seu tempo, afaste essa réstia de sol e nos imponha aquela ventania fria e desagradável que se encarrega de estender, violentamente sobre o chão, um tapete de folhas secas de diferentes tons que se conjugam perfeitamente na paleta de cores que só a natureza sabe pintar. Folhas que teimam em voar e rodopiar em desespero como se quisessem resistir ao destino de serem pisadas friamente por transeuntes indiferentes ou, tantas vezes, pontapeadas ao som das vozes e do riso despreocupado das crianças nas suas ocasionais brincadeiras, a caminho da escola. Murchas pela intempérie e violentadas pela lei da vida, elas suportam a fatalidade do envelhecimento até se finarem encharcadas e putrefactas sob a chuva insistente que o Outono, no lento definhamento dos dias e como prenúncio do inverno, teima em nos presentear.