Um sol fugidio é a luz dourada deste outono, que ora se esvai, ora se esconde por trás do tom plúmbeo que tinge o céu, ou, então, não resiste à chuva impiedosa que molha o corpo e mergulha a alma na incredibilidade e na desconfiança que empurra o país para um lodaçal infecto que encharca princípios éticos e morais e afoga valores como a credibilidade e a confiança. Já nada terá conserto se a procura dos vistos gold, que muitos buscam, não for repensado e devidamente acautelado para que, nunca mais, ninguém enverede pelos escolhos tortuosos que mancham a reputação do país e que, assim, não douram a esperança, nem a retoma económica dos portugueses. Há, antes uma rede nublosa que nos confronta com uma trapaça labiríntica que nos surpreende e nos indigna. Não ficamos tão boquiabertos com os "chicos espertos", simplórios que, na ânsia do enriquecimento rápido, logo amanham um esquema de proventos fraudulentos. Não passam de uns anjinhos que não dispõem de estruturas e estratagemas sofisticados. São a arraia-miúda que lá se vai safando até ser apanhada nas malhas da justiça. O que nos pasma são os outros, sim, os senhores que, supostamente escolhidos pelo mérito, tecem uma trama elaborada, secreta, plena de ligações estratégicas, que fazem um trabalho tentacular e em grande, que nos põem de queixo caído e, mais que indignados, nos deixam revoltados com tanta desfaçatez. É gente que semeia a descredibilização das instituições, que alimenta e espalha a desconfiança naqueles que desempenham altos cargos públicos. E que pensar? Resta-nos esperar que se faça justiça se ficarem provados os atos ilícitos que, alegadamente, foram cometidos por essa gente, mesmo nas barbas do Estado.