Faço o meu momento do café em dia de sol com sabor a primavera. No café, através da vidraça, enquanto saboreio o meu "café", olho o constante vaivém de carros na rua e o movimento dos transeuntes que caminham nos passeios que a ladeiam. Uma correria. Cruzam-se. Mal se olham. Desviam-se. Seguem alheados. Taciturnos e solitários na multidão. Vão entregues aos pensamentos e, como não há forma de os adivinhar, o jeito é pôr-me aqui a conjeturar. Uns apressam-se, quem sabe, sob o peso das preocupações como se pretendessem fugir e escapar-lhes, antes que a esse fardo desequilibre a indignação que os sustém e os prende à rotina diária, com tudo de bom e de mau que oferece. Outros, quem sabe, seguirão agarradas à esperança que ainda as prende à realidade. A esperança será, talvez, a boia a que se agarram. Afinal, mesmo em dia de sol, há o medo no futuro, na perda de rumo, do mergulho no desespero. Ela é a salvação para que não se afundem na resignação de quem caminha carregando tantas incertezas.
Termino o meu café. Saio para a rua. Dou tempo à pressa, que já não há tempo para conjeturas. Ficam à mesa do café até ao próximo momento do café. Sigo o meu caminho. Como gosto do sol e do céu azul de março! Sinto o prenúncio da primavera.