Não arrisco acreditar que a penalização, a multa e a responsabilização coerciva de pais e encarregados de educação vão criar condições que ajudem o aluno, injustificadamente faltoso ou com comportamento socialmente desajustado, a adquirir, de modo imediato e por vontade própria, a motivação e o interesse de que carece para frequentar a escola e estudar. A realidade diz que este tipo de aluno sente que a escola é uma "seca". A escola não lhe diz nada. O aluno ganha vícios e comportamentos que o ócio alimenta e a escola fomenta. Não ganha hábitos de estudo e trabalho, nem de responsabilidade e compromisso. Assume atitudes conflituosas e provocatórias entre os seus pares, desestabiliza o quotidiano das atividades letivas, desafia a dignidade do professor e põe à prova a pouca autoridade que lhe resta. Nem regras, nem sanções, nem suspensões vão modificar as atitudes que usa na luta contra a frustração e o tédio que a escola lhe provoca. Estar sujeito à frequência da escola porque, legalmente, a escolaridade obrigatória a impõe, espevita-lhe a contrariedade. Há um tempo que é preciso aproveitar para que o jovem aluno não desperdice o seu "tempo". Se o aluno não quer estudar, dê-se-lhe outra oportunidade de aprender noutros contextos da sociedade. Não se restrinja, à instituição escola, a responsabilidade de formação do aluno em idade de frequência obrigatória. Por que não fazê-la em contexto laboral? O aluno carece, sim, de um currículo programático e específico, com orientação adequada à construção do seu projeto de vida como resposta às suas solicitações e necessidades reais, às suas aptidões ou talentos, aos seus interesses e motivações. Aprender uma arte, um ofício pode corresponder às suas aptidões e vontade. Pode ser a motivação para a aquisição do know how no percurso de uma atividade profissional. Aprendê-la, no terreno, pode ajudar a interiorizar a exigência, a responsabilidade. E, por que não incentivá-lo, também, a integrar projetos de voluntariado? Há uma idade para o aluno aprender os valores do trabalho e da cidadania e, no convívio social, à luz da prática, ganhar a formação cívica.