A nossa competitividade começou a perder-se no tempo em que as naus, que deram mais mundo ao mundo, voltavam com riquezas trazidas das paragens distantes onde aportavam. A riqueza superava os custos das viagens. Tornávamo-nos ricos e importantes. Estávamos na idade Moderna, íamos de mãos estendidas e vazias e regressávamos com elas cheias de riquezas. O direito às terras já descobertas ou que viessem a ser descobertas, o tratado de Tordesilhas com o nosso concorrente mais direto, a Espanha, ajudaram a adormecer a nossa competitividade. E porque não custava a ganhar tanta riqueza, as mãos abriam-se para esbanjar. Era riqueza que não vinha do trabalho e que matava a competitividade. Gastava-se "à tripa forra". Não se poupava...
Portugal, quatro séculos passados, em 1890, mal refeito da humilhação que sofrera com o Ultimato Inglês, anunciava a bancarrota. Era o colapso das finanças públicas. Continuávamos a gastar e as remessas de ouro dos emigrantes no Brasil diminuíam e já não seguravam as dívidas. Os bancos abriam falência. De crise em crise, a monarquia e os governos continuavam descredibilizados e a República acabava por vingar em 1910. Com um senão! A I República, com governos sucessivos e fracos, continuava a desbaratar as finanças públicas. Nos anos 30 do séc. XX, a fome chegava a Portugal, o descontentamento e o empobrecimento deixavam o povo "preparado" para o Estado Novo que se impunha com autoritarismo e reequilibrava as finanças do país. A ordem era poupar, poupar. Mais tarde, quarenta e um anos depois, em 1974, a Revolução de 25 de Abril acontecia e, com ela, vieram as convulsões sociais e laborais, a reforma agrária, as nacionalizações, a descolonização, e Portugal, já em democracia, encetava um novo caminho para a falência nacional. Estendia as mãos ao FMI, nos anos 80. Aguentávamos a sua ajuda e tínhamos o desiderato que se concretizava: em 1986, já éramos um membro da EU (União Europeia). E, de mãos estendidas, íamos aos subsídios. E lá vínhamos da UE, com as mãos cheias de subsídios que não gastávamos em atividades necessárias e ajustadas à nossa realidade e que poderiam ter desenvolvido a nossa competitividade e ter feito florescer a nossa economia e a nossa riqueza. Portugal, país pobre, sempre de mãos estendidas aos subsídios e às ajudas da EU, passava a viver com manias de rico. Gostava de viver acima das suas capacidades. Continuava a gastar muito e a produzir muito pouco. Desbaratava as oportunidades como novo país da EU. A economia a crescer pouco, pouca competitividade e um Estado despesista abriam caminho para um novo colapso financeiro. Os bancos deixavam de emprestar dinheiro para cobrir os compromissos e as dívidas do país e, como no passado, em 2011, lá íamos, de novo, de mãos estendidas, pedir (era tarde para negociar) um resgate externo. E o FMI, desta vez, não vinha só. Consigo, trazia o BCE e a EU. Era a Troika que chegava a Portugal. Auditava as nossas contas e impunha as suas regras. Nas nossas mãos estendidas, depositavam uma nova ajuda financeira e as suas condições: medidas austeras, reformas e as decisões duras e penalizadoras. E Portugal hipotecava sua soberania.