Não há festejos de S. João como no Porto. É genuína a folia popular que se respira pelas ruas da cidade. Um mar de gente desloca-se ao Porto para viver esta festa tão "rapioqueira". Pelas ruas, inala-se o cheiro da sardinha assada e não se recusa uma paragem para comer a sardinhada convidativa. Há tempo para olhar as pequenas bancas de venda com os alhos-porros, os vasos de manjericos e os ramos de cidreira e alfazema que perfumam a noite. Não se resiste à compra, que a noitada de S. João é de negócio para muita gente... Apreciam-se a criatividade e o encanto das cascatas sã-joaninas e procura-se, no céu, uma invasão de balões de ar quente, coloridos e iluminados, que sobem até se tornarem num longínquo pontinho luminoso que fenece entre as estrelas. Com eles, só concorre a luz e a cor do fogo de artifício que ilumina o rio Douro e vem dar mais beleza à festa. E um mar contínuo de gente percorre as ruas ao som ininterrupto da batida ritmada dos martelinhos que se emaranha na alegre miscelânea musical que se ouve e enche a festa que dura até ao raiar do dia...
Tudo se apresenta na qualidade de novo. Pressupõe-se que uma mudança está acontecer. É um novo governo que resulta de uma nova coligação, um novo PM que é novo, um novo elenco governativo que compõe um novo número de ministérios com ministros novos na idade e no exercício de novas funções. Uma nova Assembleia da República com um novo arco parlamentar e presidida por um novo presidente que vai imprimir uma nova marca porque a escolha recaiu numa mulher, o que é novo na história da nossa democracia. É um novo ciclo de governação e de políticas que se inicia. Deseja-se que um novo alento e uma nova esperança renasçam desta mudança. O povo diz, "quem muda, Deus ajuda" e espera-se que assim aconteça...
A propósito, vem à lembrança o soneto de Luís de Camões, "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", musicado e cantado por José Mário Branco.
Os acríticos comportam-se como libelinhas, preenchem uma longa fila de gente ligada aos media, mais uns quantos políticos, os profissionais e os outros que, voluntária ou obrigatoriamente afastados da atividade política, se ajeitam à prestação de um serviço público, mas num outro registo. Os acríticos não picam, não desferem picadas agressivas na governação como fazem os detratores, mas esvoaçam, também, pelos canais da comunicação. Assumem-se, alguns, como formadores de opinião. Alimentam a opinião pública com análises e comentários à atualidade política, fazem registos opinativos que podem ser tão prejudiciais quanto o pessimismo dos detratores. Por vezes, tangem a bajulação que o poder político não pode aceitar porque a ação governativa tem de ser exercida e criticada com independência e transparência, no compromisso da confiança e na defesa da crediblidade. Gente bajuladora é tão dispensável quanto gente detratora. Ambas recusam o sentido da imparcialidade que deve estar presente quando se julgam as palavras e os atos de quem pode estar do mesmo lado ou do lado oposto dos interesses dos julgados. Exige-se gente que opine, que exerça a crítica com isenção.
Mal os nomes dos escolhidos para o elenco governativo tinham sido anunciados, já os detratores se perfilavam para a verbalizarem a incontida opinião. Na vasta gama de políticos profissionais, ex-polílitos e políticos em stand-by, jornalistas, analistas e comentaristas da nossa política, politólogos e opinion-makers, aparecem sempre os mesmos, aqueles que, nos media, estão ao serviço do contraditório. Duvidam da eficácia da redução do número de ministérios, em tom especulativo questionam a competência técnica versus capacidade política dos futuros ministros no cumprimento das reformas anunciadas e na aplicação de medidas que se perspetivam difíceis e duras para os portugueses. Em tom adivinhatório, chegam a avançar com o prazo de validade de uma ou outra personalidade no elenco governativo. O novo governo ainda não tomou posse, já a réstia de esperança começa a ser toldada pelo pessimismo. Em democracia, têm todo o direito à crítica e à opinião livre. Mas nem sempre há pachorra para os ouvir...