O Outono chega e carrega consigo a riqueza dos seus matizes. Enquanto espalha e vai firmando, por toda a natureza, o castanho seco e o amarelo envelhecido da sua inigualável paleta de cores, o vento e a chuva, seus companheiros de sempre, vão tomando conta dos dias e, definitivamente, marcam o fim daquele encantamento outonal e ameno com que os nossos sentidos se sentiam privilegiados. Então, um tom pardacento, pesado, instala-se, envolve Novembro que, no cumprimento do calendário, chega submisso à inexorável vontade estacional que o Outono lhe impõe e, num lento definhamento que lhe invade os dias, presenteia-nos com o vento e a chuva, incessantes, que fazem o prenúncio do Inverno. E, num cenário encinzeirado e húmido, Novembro, na consumição final dos seus dias, prepara-se para dar lugar a Dezembro, faz tréguas com a chuva e deixa que o frio impiedoso entre para se acomodar à época natalícia que se aproxima. E, mais uma vez, se confirma o adágio popular: "Dos Santos ao Natal ou bom chover ou bem nevar".
Ao longo do ano, os dias sucedem-se irrepetíveis com aparentes pontos comuns, desde a prática rotineira que os enxameia até aos factos marcantes que os distinguem. Não há dias iguais. Uns passam indiferentes à rotina fastidiosa com que os preenchemos. Outros, atravessamo-los penosamente, carregando o sofrimento e o cansaço físico que sobram do desgaste emocional com que enfrentamos as contrariedades que, no dia-a-dia, nos tomam de surpresa. E outros, ainda, correm na leveza dos momentos agradáveis que desfrutamos e dos instantes de felicidade que vivemos. Face aos dias que correm aborrecidos ou que nos conduzem à exaustão, apetece-nos deixá-los no passado, bem arrumados mas não esquecidos para que, de forma mais diluída, os possamos projectar, também, na memória daqueles dias agradáveis que nos amenizam e sustentam a nossa existência. Há dias e dias. Todos eles são as marcas temporais com que assinalamos os acontecimentos, os episódios, as vivências e os estados de alma que contam a nossa história de vida.
Incompleto, abandonado, irrealizado, o sonho não deixa marcas temporárias como um puzzle inacabado. O sonho não concretizado deixa uma marca inesquecível, parada, à espera que todos os seus passos possam ser recriados ou reformulados para que as peças se reencaixem, se ajustem na construção que se recomeça, se, para tal, houver oportunidade, persistência e força anímica que ajudem o Homem a superar as contrariedades e a acreditar que vale a pena correr atrás do sonho.