O canto do alegre grilo-cantante ouvia-se e logo um bloco de insectos, zoando e esvoaçando à sua esquerda, apressava-se a apoiá-lo naquela decisiva serenata de confessável disponibilidade a candidato à presidência do jardim quadrilongo. O alegre grilo-cantante não recusava aquele bloco de apoio. Tal aceitação provocava uma ruidosa e generalizada estridulação na família dos grilos. O imponente grilo-cantante lembrava a sua pertença e a importância histórica que tivera na família grilídea, mas continuava a cantar fora do tempo e do ritmo que ela impunha. Bem reivindicava o seu estatuto grilídeo, mas o seu independente e extemporâneo canto irritava a família. Por isso, o apoio tardava. O grilo-cantante desejava senti-lo. Mas o apoio da família grilídea acomodava-se ao indeciso e prolongado compasso de espera. Contudo, face ao canto reivindicativo do alegre grilo-cantante, uns grilos atreviam-se a entoar um canto convergente e melodioso de apoio, enquanto outros, numa dissonante entoação, apelavam à livre decisão sem qualquer imposição familiar. O canto e a estridulação confundiam-se pelo jardim. A grilharia ecoava sem controlo. Tinha de ser disciplinada. Os grilídeos não podiam adiar, por mais tempo, a reunião familiar. Chegava o momento para a família grilídea se reunir e tomar a decisão definitiva... Sob a batuta do líder-grilo, a larga estridulação submetia-se ao canto harmonioso da maioria. Alguns discordavam do apoio decidido e silenciavam. Muitos outros grilos largavam o registo de dissonância extrema e juntavam-se ao canto uníssono de apoio ao alegre grilo-cantante. A família dos grilos oficializava, assim, a sua decisão e entregava ao alegre grilo-cantante, o testemunho mais simbólico daquele apoio, a rosa do jardim. O imponente e alegre grilo-cantante, finalmente, podia agarrá-la e cantar a sua satisfação. Ainda assim, mal ficavam serenadas as hostes na família grilídea, pelo jardim, elevava-se um solitário e veemente canto de discordância. Um dos mais carismáticos grilos discordava...