Foi assim... não é bem assim... é o mexerico. Há sempre novas versões para que o mexerico se imponha e nunca se chega a saber a razão por que cai no circuito social, mais ou menos alargado, estendido a um universo mais extenso e público ou restringido ao pequeno meio social onde o alvo se movimenta. O mexerico sustenta a mesquinhez dos autores, gente ávida pelo conhecimento dos erros de outrem, pelo descortinar dos seus segredos, gente maodizente que se encarrega da sua difusão, que explora a insinuação e suporta a suspeição para que a intriga circule, em roda livre, sem limites, e ampliada no conteúdo, no espaço e no tempo. Enquanto a máscara de impunidade se cola aos autores, a suposição, a especulação, a maledicência, como máscaras da oportunidade, colam-se ao mexerico e conduzem os visados à difícil gestão de tolerar e resistir ao desgaste emocional e físico a que ficam expostos. O mexerico propaga-se com tal permissividade que o desrespeito desfila pela passadeira linguaraz da sociedade como se uma borracha tivesse apagado os vestígios de respeito, compreensão e tolerância dos seus autores e seguidores que, não fazendo uma paragem para contabilizar os estragos provocados na vida de alguém, ignoram o estado de alma dos atingidos porque o olhar rapace sobre o sofrimento dos outros não lhes concede tempo para se questionarem... O mexerico nasce, cresce, multiplica-se em condições favoráveis e, mesmo que não sobreviva à reposição da verdade, não morre completamente. Deixa sempre a marca indelével da dúvida.