O Outono entrara e fora oferecendo as sobras que o Verão lhe deixara na ânsia de partir para cumprir escrupulosamente o calendário e assumir o seu papel noutras latitudes. Entrara tão de mansinho, enlaçara aquela réstia de verão até que sentiu que ela lhe coartava os ímpetos e, sem demora, cansou-se de esconder a sua verdadeira índole sob um céu azul e por trás de tantos dias iluminados e quentes com que presenteara muita gente. Cansado, desenvencilhou-se daqueles restos de Verão que teimavam em iludir todos e que a todos baralhavam. Estava decidido. Chegara o momento de tomar em suas mãos o seu destino e a sua marca como elo de ligação entre o verão e o inverno. Reconhecera que era dono do seu tempo, que o desenrolar dos dias e meses era seu. Quis manifestar toda a sua essência e vontade. Por fim, era o tempo de impor a sua verdadeira natureza. Deixou-se de disfarces e lançou-se numa inesperada ventania. Folhas, ressequidas e desorientadas, invadiram e encheram de tons outonais, tão orgulhosamente únicos, todos os espaços nos campos, jardins, ruas, caminhos. Mas ainda não estava satisfeito. E para completar a apresentação de todo o seu quadro estacional, uma chuva impertinente caiu, encharcou violentamente tudo, marcou o fim daquele encantamento com que a atmosfera outonal privilegiara a natureza. Foi como se o Outono quisesse reafirmar o princípio de um tempo que é todo seu.