A abstenção, como era pressentido, voltou novamente a ganhar. É sinal de que uma grande franja do eleitorado português continua muito crua em termos de cidadania. Justifica-se, o abstencionista, de que não vota porque está desiludido com os políticos. Todavia, perde sempre a oportunidade de o demonstrar, democraticamente, pela força do voto. É a inércia do comodismo a que se entrega que o impede de ir colocar o seu voto nas urnas. A abstenção que usa e, por vezes, abusa, mascara-a na preguiça e esta postura pessoal tem reflexos na sociedade e no país, acabando por marcar os resultados obtidos nas urnas. Compreende-se que haja eleitores que, por motivos de força maior, possam estar impedidos de irem votar, mas é uma pequena minoria na percentagem, em crescendo, da abstenção. Quem voluntariamente se abstém, não tem opinião, não sabe o que quer, acomoda-se. Sempre é mais fácil que os outros resolvam por ele. É pena. Não tem garra. Não passa de um membro inerte na sociedade. Como membro de uma sociedade a quem a democracia oferece o direito ao voto, não dá a resposta cívica, através do dever de votar. Foge da responsabilidade. O eleitor que vota no partido político que escolhe, independentemente de vir a ser o vencedor ou ter mais ou menos percentagem de votos, e o que exerce o direito de votar em branco afirmam as suas opiniões e revelam as suas vontades. Fazem-no sempre na perspectiva de apoio e confiança ou como forma de expressar o descontentamento e a descredibilização nos políticos que não honraram as suas promessas eleitorais. Votar é, simultaneamente, o direito e o dever de cidadania e quem se abstém "está-se nas tintas" para o resultado que possa acontecer, quer seja ou não do seu contento.