“Os políticos portugueses apenas falam a língua que sabem que o povo português entende: a emoção e o ruído” – alguém, assim comentou, por aqui. Acrescento que não somente a classe política mas também os media há muito perceberam que o povo português se caracteriza por uma ruidosa amplitude emocional. Uns e outros sabem como a explorar e alimentar. É uma reciprocidade e fazem-na egoisticamente. Dela colhem os seus proventos que se traduzem no aumento de votos para os políticos e de audiências ou de vendas para os media. Eles reconhecem como o povo português pode ir do mais pungente drama ao mais malicioso dichote e brejeira anedota. Como reage ruidosamente! Os políticos, usem eles uma linguagem pouco respeitosa e slogans de campanha política bem polémicas, ou então, aos media, dêem-lhe um dramalhão, daqueles escabrosos (que não lembram ao diabo), que o português sustenta a polémica e o drama até à exaustão porque um choradinho luso, bem alimentado, resulta sempre. A televisão, particularmente, proporcione-lhe reportagens e programação que possam levá-lo da mais sentida lágrima à euforia mais estridente que a fidelidade do povo português não falha. Dêem-lhe razões e questões políticas, casos de vida e morte tristes, derrotas e vitórias da sua paixão clubística ou partidária que o povo português, de coração aberto, reage emocional e ruidosamente: comenta, opina, conjectura, especula, emite juízos de valor, faz o julgamento. Chega a apresentar um plano A ou um plano B, como alternativo de solução. Mas emoção e ruído estão sempre presentes. Transforme-se naquilo a que se chama de treinador de bancada, sabedor que domina todos as questões e assuntos... É o feed-back que a classe politica e a media esperam para a linguagem que usam. Mas não julguem os políticos e os media que só depois do 25 de Abril é que descobriram este quinhão. ''E tal com dantes, faz-se tudo igual no quartel de Abrantes''. Também o antigo regime soube usá-lo e sustentá-lo. Porque o slogan ''Fado, Futebol e Fátima” veio para ficar. Continua de pedra e cal. São parte visceral da emoção e do ruído do povo português. Bem aproveitado, ''Fado, Futebol e Fátima'' foi transformado, circunstancialmente, para que pudesse ser apossado e acomodado pela política e pela informação social da actualidade, tendo em mente que a Lei de Lavoisier não lhes foi alheia e que aplicada ao rectângulo geográfico que acolhe o povo português, torna-se em resultado significativo: Em Portugal, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”... porque alienado é como se quer que o povo siga a dança e a contradança.