Na véspera de Natal, o aroma da canela espalhava-se pela casa. Era um dia de azáfama para a mãe que fazia os doces tradicionais e não faltavam as rabanadas, os coscorões, a aletria, o pão-de-ló e os mexidos ou formigos como são conhecidos no Minho. E eram à rico, como dizia um camarada do pai, o Sr. Monteiro, porque, para além do mel e do vinho do Porto, levavam amêndoas, nozes, pinhões, avelãs e passas de uva.
O jantar da consoada era servido numa mesa muitíssimo comprida na sala de jantar contígua à cozinha porque a família era grande, com seis filhos, e o pai e a mãe não a achavam suficientemente numerosa para a celebração da festa de Natal. Havia sempre convidados! Eram os amigos que passavam a quadra natalícia longe dos entes queridos e, então, os pais faziam questão de as convidar para a consoada. À mesa, havia o tradicional bacalhau cozido com todos e em grande quantidade porque o que sobrasse seria para a “roupa velha” do almoço de Natal. À sobremesa, provavam-se, então, todos os doces tradicionais que a mãe confecionara com o carinho e a serenidade que lhe eram tão naturais. Depois, na varanda frente ao mar, com muita conversa e jogos tradicionais, a reunião da família e dos amigos continuava e estendia-se até à hora do nascimento do Menino Jesus.
À meia-noite, era o momento de toda a família colocar o sapatinho na chaminé da cozinha. Não se esperava pelo Pai Natal, mas pelo Menino Jesus que acabava de "nascer" no presépio lá de casa. E, enquanto os mais velhos seguiam para a missa do galo, os mais novos íam dormir. Era a hora em que a algazarra serenava e a casa ia mergulhando na magia silenciosa da noite de Natal.
in "Natal no tempo dos trópicos" (revisto)