Era uma vez um jardim quadrilongo situado no oeste da Ibéria e plantado à beira-mar. Era habitado por toda a sorte de insectos. E naquele tempo, os insectos ainda falavam. Um dia, um gafanhoto gigante dirigente do zelo daquele jardim, por longas horas, foi ouvido por uma comissão de inquérito que fora pedida por umas formiguinhas bem diligentes. Durante essa audição, incessantemente, estridulou a sua inocência e o seu desconhecimento quanto à existência e à prática de operações menos transparentes que haviam sido conduzidas por uns gafanhotos gigantes e ambiciosos que haviam montado arraiais no jardim. Também lá habitavam e socialmente eram considerados insectos tão críveis que a confiança era total nesses gafanhotos gigantes. No jardim, todos os insectos que por ali viviam, achavam-nos gafanhotos de bem, acima de qualquer suspeita... Mas em busca do proveito para o qual focaram o seu incontrolável apetite voraz, aqueles gafanhotos ambiciosos saltitaram daqui para ali e favorecidos por uma prática de tráfico de infuências que lhes facilitou uma lucrativa deslocação por todo o jardim quadrilongo, e com avidez pelos ganhos fáceis, insaciavelmente, como um flagelo predatório, em roda livre, provocaram uma razia naquele jardim que redundou em estragos de grande monta que os grilinhos cantantes, que governavam o jardim, tiveram de mandar ajardiná-lo, de imediato, já em desespero de causa. Questionado e perante as fortes picadas, à direita e à esquerda, deferida pelas activas formiguinhas sempre acutilantes e impertinentes, o gafanhoto zelador não aceitou e nem sequer admitiu quaisquer falhas na sua função de vigilância e zelo face a irregularidades nunca detectadas e então, propalando a sua ingenuidade pela credulidade excessiva no mais destacado gafanhoto gigante daquela praga destruidora, levou os insectos que pululavam por todo aquele jardim, a oeste da Ibéria, a ficarem com a sensação de que ingenuamente... o zelador passara ao lado!