Será que a manifestação sacudiu a teimosia do governo? Deveria servir – lhe para refletir e questionar das razões que levaram tanta gente a sair à rua num sábado de março. Quem governa, até agora, não quis encontrar a resposta racional, urgente e necessária que conduzisse a uma mudança de rumo governativo e que os cidadãos vêm clamando. Quem governa tem a sua própria decisão e toma-a como definitiva e sem retorno. Mas um ato protestativo, como o de sábado, encerra desespero e mostra, a quem governa, que foi decidido à luz da resistência e da solidariedade no sofrimento comum, e levado a cabo por uma consciente e corajosa lucidez. É um ato de fuga à resignação perante o empobrecimento que atinge os cidadãos e se perspetiva contínuo e crescente. É a capacidade dos cidadãos mostrarem a tristeza que lhes vai na alma e compartilharem, também e de forma mais alargada, o sofrimento que lhes vai minando a vida, a esperança e o futuro. É a indignação que desce à rua para mostrar a quem, de forma dura e irreversível, tem governado, decidido, teimado, cortado o rumo à vida dos cidadãos. É um ato de um descontentamento que, em última análise, resulta da ineficácia da perceção, do alheamento voluntário ou da negação do governo face ao sofrimento dos cidadãos que acreditaram nas suas promessas e, maioritariamente, elegeram para governar. Mais que uma proposta a que "se lixe a troika," esta manifestação é uma atitude de protesto contra o atual governo.