Espartilham-me o sonho,
arrancam-me a certeza,
rasgam-me o futuro,
vestem-me a tristeza.
Desalento cobre os ombros,
farrapo de esperança,
sou corpo nos escombros
mortalha da governança.
Com forças p'ra além de mim,
denuncio tal espoliação,
ninguém me esbulha assim,
e à resignação, grito: não!
São tantos, tantos, os danos,
veemente, grito: basta!
Não perdoo mais enganos.
Rapaces! Comilança!
Ergo-me, sem medo, sem frio.
Minha bengala, a esperança.
Caminho. Tremo. Um calafrio.
Não cambaleio. Aguento.
Meu suporte, a indignação.
São grifos de poleiro...
Nada deixam, nada dão.
Voam raso, tudo rapinam.
Abutres sem lei, nem coração!